RIO —Um recente estudo sueco publicado no periódico científico “Scandinavian Journal of Caring Sciences” concluiu que a falta de apoio do pai está entre os fatores que prejudicam a continuidade do aleitamento materno após o sexto mês de vida da criança, o que foge às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para a nutróloga pediátrica Aline Magnino, do Grupo Prontobaby, comemorar o Dia dos Pais em agosto, período de conscientização sobre amamentação em 120 países, é uma oportunidade de incentivar a presença masculina nesse processo. Para a especialista,a amamentação marca um momento precioso na vida de um casal, e o apoio deles é determinante no processo, ainda mais quando se trata do primeiro filho.
Esse foi o caso, por exemplo, da psicóloga Catarina Machado, de 35 anos, e do engenheiro Michel de Souza, de 38 anos, cujo primeiro filho, Bento, de 7 meses, chorava demais por sentir muitas cólicas. Os dois ouviram muitas opiniões contrárias à recomendação da OMS sobre o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês, mas se mantiveram firmes. No entanto, isso não significou um isolamento. Ambos frequentam encontros de casais a cada 15 dias em que os pais levam seus bebês e promovem atividades para eles.
— Ao invés de fortalecer o que é mais bonito e saudável, muitas pessoas acabam presumindo uma informação errônea. Estamos na etapa de introdução alimentar, oferecendo para frutas, legumes e verduras, mas o leite materno ainda é a principal fonte. Fomos descobrindo o Bento juntos, sem que eu precisasse guiar de alguma forma, porque eu sempre disse que o Michel não ajuda, ele é pai e age como pai. Eu tinha meus medos se estava fazendo certo, mas tinha ele ao meu lado. Para os pais que são ativos, esse é um caminho maravilhoso, e a família se constrói junto — afirma Catarina, cujo marido negociou licença no trabalho, juntando férias e outros benefícios, para participar ativamente durante dois meses após o parto.
— A gente desejava muito ter um filho. Acho que o mais difícil no começo foi o cansaço, mas agora o Bento está com horários mais ritmados para dormir. Tirando a alimentação, o resto a gente divide. Agora chego mais tarde ao trabalho para ficar com ele pela manhã e, quando volto para casa, dou banho nele e o coloco para dormir. Nos fins de semana, a gente vai à praia e o Michel também faz natação. Fico mais nessas tarefas de trocar fralda, brincar, distrair, mas sem televisão ou aparelhos eletrônicos. Na verdade, isso tudo não é tarefa, é prazer, é vida — contou Michel.
A OMS indica ainda o recém-nascido pode continuar recebendo leite materno até por volta de 2 anos, em conjunto com alimentos apropriados. Assim, Catarina não tem planos de desmamar. A mãe garante que quem vai mostrar o momento certo é o Bento.
No entanto, para Patricia Pereira, de 31 anos, esse prosseguimento foi um desafio. Seu marido, Cristiano Mannarino, de 37 anos, buscou ajuda especializada para sanar as dúvidas do casal, e ela criou uma rotina para continuar o aleitamento durante o trabalho, até o filho deles, Pedro, completar 1 ano. Assim, a pediatra passou a armazenar o leite com a ajuda das nutricionistas do hospital onde trabalha e levava para casa ao fim do dia.
Para o casal Paula Andrade, de 46 anos, e Marcelo Virmond, de 52 anos, a principal dificuldade foi saber sobre como seria a amamentação depois de uma mastectomia. Aos 33 anos, a mãe de Frederico enfrentou um câncer de mama agressivo, mas quando engravidou, já curada do câncer, conseguiu amamentar com um seio só. Segundo ela, o sentimento de forte vínculo que construiu com o filho foi o que mais a marcou.
— Estamos casados há 20 anos e o Marcelo sempre esteve do meu lado. Quando o Frederico nasceu, eu queria muito amamentar e ia tentar de qualquer jeito. A amamentação desde o primeiro dia foi muito tranquila. A presença do companheiro, do marido (nesse processo), é fundamental. Você se sente inteira para poder se doar para a criança — ressaltou Paula.
A assistente social Kelly Barbosa, de 37 anos, contou que tentava absorver cada orientação que recebia, mas depois acabou se sentindo prejudicada por isso, sentindo dor enquanto alimentava o filho Cauã. Assim, seu marido, o contator Anderson de Souza, de 38 anos, aconselhou que o casal estabelecesse uma rotina a respeito da interferência das outras pessoas, o que contribuiu para seu bem-estar e o do bebê.
— Nós mulheres muitas vezes reclamamos da falta de presença do pai, mas, por outro lado, acabamos achando que eles não têm como ajudar em relação à amamentação. Isso está errado! Além do apoio nas questões práticas, meu marido me ajudou a ver qual era meu real desejo e a pensar em mim mesma, me dando confiança para bloquear as influências externas — disse.
Link original | Jornal O Globo | 13/08/2017