A quarentena — e todas as suas incertezas — tem mexido com a cabeça de muita gente. Algumas estão com mania de limpeza, outras não param de buscar comidinhas no armário e, mais algumas, vivem olhando os sites de compras e gastando com coisas que, de fato, poderiam esperar mais um pouco. Como identificar quando isso se torna um comportamento compulsivo e como lidar?
Em primeiro lugar, uma breve olhada no cenário: o país vive uma pandemia de dimensões nunca antes vistas (são mais de 1.180 milhão de casos); centenas de pessoas perderam as suas fontes de renda (economia do país deve ter queda de 7,4% neste ano); milhares de famílias tiveram que dar adeus a parentes queridos (são mais de 54 mil óbitos registrado) e ninguém sabe dizer quando tudo vai voltar ao normal. Então, para início de conversar, está tudo bem não estar tão bem.Sem julgamentos, ok?!
Sentimentos aflorados
“Durante esse período de isolamento, os problemas sociais ganham maior proporção, podendo agravar questões emocionais ou servindo como gatilho para o surgimento de questões que estavam adormecidas. Nesse sentido, as compulsões podem surgir como forma de lidar com essas angústias”, explica Lívia Beraldo de Lima Basseres, mestre em psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPQ-FMUSP).
Além disso, com a quarentena, a rotina mudou e todos precisaram se adaptar. Mas não quer dizer que, ao se adaptar, as coisas ficaram mais fáceis. “Todo mundo teve a sua rotina impactada por um vírus que a gente não conhece. Ninguém tem controle sobre isso e essa situação causa muita angústia”, ressalta Talitha Nobre, psicóloga do grupo Prontobaby.
Para tentar lidar com essa nova situação, cada pessoa acaba procurando por atividades que possam aliviar essa angústia. “Fazer faxina várias vezes por semana e comer demasiadamente, por exemplo, são formas de ocupar o tempo e preencher o vazio causado por essa sensação. Afinal, se eu estou o dia inteiro fazendo alguma coisa, não há tempo para pensar no que está acontecendo”, salienta Talitha.
Hábito ou compulsão?
Diferencie um hábito de um quadro de compulsão: Um hábito é algo que você faz com frequência, como escovar os dentes antes de dormir ou tomar um cafezinho após o almoço. Se um hábito não faz mal, não há motivo de mudá-lo. A compulsão, no entanto, está vinculado à uma sensação de obrigatoriedade e ansiedade.
“O hábito pode ser flexibilizado, pode ser deixado de lado algumas vezes ou pode ter sua ordem invertida com tranquilidade. A compulsão, por sua vez, é rígida, deve ser realizada sempre da mesma forma, caso contrário o indivíduo não consegue se concentrar e se sente incomodado e ansioso até realizar o ato da compulsão”, explica Eduardo Perin, psiquiatra especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.
Dessa forma, se um hábito está te fazendo mal, busque ajuda!
“É preciso identificar a função dessa compulsão, porque ela sempre tem um significado na história desse sujeito e é nessa direção que vamos trabalhar”, acrescenta Talitha Nobre.
Atenção aos seus hábitos
Não paro de comer, e agora?