Rivalidade feminina e relacionamento “maternal”: o que não levar da “Barraca Do Beijo 2” para a sua vida admin-prontobaby agosto 1, 2020

Rivalidade feminina e relacionamento “maternal”: o que não levar da “Barraca Do Beijo 2” para a sua vida

todateen assistiu A Barraca Do Beijo 2 assim que o catálogo da Netflix foi atualizado na última sexta-feira (24). Com um elenco carismático e um enredo clássico entre as comédias românticas adolescentes, o filme protagonizado por Joey King, Jacob Elordi e Taylor Zakhar Perez foi um dos pontos altos da quarentena, tendo a discussão sobre #TeamNoah ou #TeamMarco como uma das temáticas mais comentadas durante o final de semana da estreia.

Entretanto, o filme repleto de cenas fofas também trouxe reflexos tóxicos dos relacionamentos adolescentes, e se você está em grupos de “share” no Facebook deve ter se deparado com diversos comentários que questionam os conflitos que dificultam a vida de Elle no roteiro.

A gente já fez uma matéria especial sobre os estereótipos do entretenimento teen e como eles podem ser prejudiciais para a formação de uma geração empoderada (confira aqui o conteúdo completo). A sequência de A Barraca Do Beijo nos mostra que, mais uma vez, os rótulos e comportamentos de raízes machistas ainda estão enraizados nas “rom-com” teen.

Diversas reflexões sobre o enredo merecem destaque, mas o foco desta matéria será falar um pouco mais sobre duas problemáticas presentes na história de Elle, Noah, Marco, Lee e Rachel: o relacionamento com características maternais e a consequente rivalidade feminina. Para isso, conversamos com a psicóloga Talitha Nobre, psicanalista membro do corpo freudiano do Rio de Janeiro e coordenadora do centro de apoio à família no grupo Prontobaby.

Você já reparou que Elle evita ao máximo conversar com Noah quando sente que seu relacionamento está com problemas? E quando Rachel acredita que o problema de sua relação com Lee é a intromissão de Elle, e não a falta de organização do namorado? Segundo a Dra. Nobre, a explicação está nesta mania de acreditar que o homem não tem capacidade de administrar sozinho o problema, e é aqui que o traço “maternal” entra em jogo.

“A mulher muitas vezes é criada para ser mãe, mais um traço herdado pela cultura patriarcal. Essa mulher, que foi criada para atender a todas as demandas do seu parceiro, carrega o peso de ‘cuidar’ dele, é a mãe da relação. No fundo esse comportamento pode revelar uma certa insegurança e dificuldade em lidar com as escolhas do outro. Sendo assim, elas assumem o controle da relação e acabam ocultando suas próprias vontades”.

Afinal, Elle sonhou a vida toda em estudar na Califórnia, mas de um dia para o outro estava em um concurso para ter dinheiro suficiente para Harvard, a faculdade do namorado.

“De novo aquela máxima da mulher responsável pela relação. A mulher como aquela que vai sacrificar sua própria individualidade para preservar a relação e que abre mão da sua singularidade para viver a vida do parceiro”, completa a Dra. Nobre.

Mas não é só a criação patriarcal das mulheres que influenciam essa necessidade de lidar com todos os problemas do relacionamento, e até da vida do parceiro. A criação dos homens pode os tornar péssimos no quesito “inteligência emocional”. Conversar e expressar os sentimentos é uma grande dificuldade para os garotos, especialmente Lee, que prefere fingir torcer o pé a falar com a melhor amiga sobre sua gestão de tempo nos relacionamentos ou ainda, dizer à namorada que não quer reduzir o tempo que passa com a melhor amiga.

“Meninos crescem ouvindo ‘homem não chora’. Há uma restrição ao homem em poder demonstrar suas emoções e isso vai sendo transmitido de geração em geração”.

Como a maior responsabilidade dos problemas parece não ser do parceiro, Elle e Rachel fazem algo que é bem comum em diversos relacionamentos: transferir a causa da complicação no namoro para uma garota, retratada como rival. Para Rachel, Elle é intrometida, enquanto a protagonista reune provas de que Chloe é sua adversária na conquista de Noah. Outro nome para estas situações é a “rivalidade feminina”.

“Este é um esteriótipo que vem sendo desconstruído na atualidade com o conceito de sororidade. Existe o peso da cultura que vai se reproduzindo entre gerações. No modelo patriarcal, por exemplo, o lugar que a mulher ocupa era de ser do lar, mãe, ao lado de um homem a quem deveria agradar. No filme vemos claramente a expectativa feminina de que outras mulheres possam assumir a responsabilidade de resolver os problemas pelos homens. Em uma traição, por exemplo, a culpada é sempre da outra mulher, isso já esta tão enraizado que muitas vezes não paramos para questionar”.

Nobre ainda comentou sobre a rivalidade feminina e a isenção da responsabilidade dos homens na relação.

“A narrativa mostra a namorada culpando a amiga do namorado pela relação de amizade entre os dois, quando deveria questionar o próprio garoto pela relação que ele tem com a protagonista, a qual lhe causa tanto desconforto. Isso só aumenta a rivalidade feminina e isenta o homem da responsabilidade na relação”, completa a Dra. Nobre.

Apesar de não mostrar uma conversa sincera entre Lee e Rachel, a sequência de A Barraca Do Beijo se encerra com o fim do clima de disputa entre as mulheres, bem como a conversa tão aguardada entre o casal favorito, Elle e Noah. Se existe algo da narrativa que podemos levar para a vida real, com toda certeza é a conclusão de que a comunicação é o pilar para qualquer relação.

“O relacionamento é um acordo entre duas pessoas, o qual precisa ser ajustado e relembrando sempre que necessário. Não há relacionamento sem comunicação! Quanto melhor o diálogo, melhor será a relação”, finaliza a Dra. Nobre.

Fonte: Toda Teen

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